Seus olhos subiram do chão até se fixarem no rosto dele. Foi quando ela gritou, tapando os olhos. Os restantes se aproximaram de meu pai e um rumor se espalhou como nuvem fria. - Os olhos dele! Sim, os olhos de Agualberto não eram os mesmos. Ninguém conseguia olhar meu pai de frente. Porque aqueles olhos dele estavam da mesma cor do mar: azuis, de transparência marinha. Sua humanidade estava lavada a modos de peixe. Ele ficara muitíssimo demasiado tempo debaixo do mar. E se espalhou um murmúrio de que Agualberto tinha os olhos de tubarão, tal iguais aos grandes e dentilhados bichos. A partir desse dia meu pai se adentrou em si mesmo, toda a hora sentado na praia contemplando o horizonte. Passavam gentes vindas de longe para espreitar de longe o preto de olhos da cor do mar.
Mia Couto, excerto "Mar me quer", pág. 37-38
Estou a ler "Jerusalém" do mesmo autor.
ResponderEliminarE eu "Na berma de nenhuma estrada". A ver se alguém me dá boleia!
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