Faço cada triste figura, ó se faço!
Hoje, corria a primeira hora da tarde, eis que ouço a estridente campainha que normalmente anuncia o final de uma aula. Imediatamente, como que empurrados pelo impulso de uma forte mola, levantam-se 28 almas e dirigem-se, atabalhoadamente, para a porta. Olho de relance para o relógio, procurando entender a razão do tempo ter passado tão depressa. Penso:
devo estar a dar mesmo bem as aulas, nem se nota o tempo a passar. Ups, ainda faltam 35 minutos para a hora de saída… que raio se passará com a campainha. Assim que recobro da estupefacção, dirijo-me, agora eu ainda mais atabalhoadamente do que eles, para a porta e disparo:
- Pode saber-se onde vão?
- Lá para fora professora - respondem em uníssono.
- Lá para fora não. Cá para dentro se faz favor - riposto, fazendo má cara.
- Não perceberam que ainda não são horas de sair?
Nisto aproxima-se uma esbaforida empregada que, à medida que ditava a ordem de “Lá para fora, já!”, os ia
suavemente empurrando porque estavam, segundo ela (e cheia de razão), a encalhar tudo.
- Ó D. Maria, então, que se passa?
- Ó professora então hoje é a simulação. Vá com eles e oriente-os.
Ao ouvir a palavra simulação, assaltam-me vários pensamentos, mais ou menos deste teor: merda; que seca; que faço eu agora; não li nada sobre isto; que levo?; para onde vou?; fecho a porta; deixo-a aberta?; e outros eteceteras afins.
Por fim lá fomos para o sítio escolhido, medianamente ordenados e a rir a bandeiras despregadas devido ao insólito da situação.
- Então a professora queria que morrêssemos ali enchurrascados? - perguntou, sorridente, um deles.
- E então? Já nem vos corrigia o teste. Até que nem era mal pensado - brinquei eu.
- Mas a professora não sabia mesmo? - pergunta outro.
- Claro que não. Nem fazia a mínima ideia. Não li nada sobre isto. Ando cheia de trabalho e não reparei em nada, procurei justificar-me.
- Então mas eu até lhe perguntei no início da aula se íamos fazer a avaliação da oralidade antes ou depois da simulação - acrescenta.
- Sim, mas eu pensei que te referias a uma simulação qualquer, relacionada com a expressão oral. Sei lá, na altura nem pensei!
Simultaneamente, assaltou-me a recordação de ter ouvido um deles perguntar-me se 45 min chegavam para a realização do teste e, na altura, pensei que o miúdo não devia ser muito certo porque me fazia cada pergunta, uma vez que a aula era de 90 min. Enfim…, parece que a INCERTA sou eu.
- Professora, se calhar devíamos pôr-nos em fila. Somos os únicos que não estamos ordenados e o director está pronto para a foto - alerta outro deles.
Só tive discernimento para me baixar um bocadinho de modo a ser confundida com a multidão e não ser identificada para a posteridade como a
profe tresmalhada.