quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Água dentro de água

 
Posted by Picasa


No dizer dos cientistas, água é H2O. Tudo tão simples: dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio. Bem juntinhos, nas condições ideais de pressão e temperatura. E tal, e tal e pronto. Sem mistérios.
E para os poetas, esses seres que se dedicam a complicar tudo o que é simples, o que é a água?
Sabem lá eles... Nem lhes interessa. Olham-na, escutam-na, molham nela as palavras para que escorram pelos poemas. Mergulham até ao fundo dos lagos sem precisarem de deixar as margens, bebem a chuva sem mexer os lábios, cumprimentam as estrelas espelhadas nos charcos. Muitas vezes, ficam com os olhos rasos de água. É sinal de que lavaram a alma. Com água.


A chuva cai no lago.
Que dirá a água sobre a água?
Cada pingo grava
o centro de muitos círculos
e palavras secretas circulam,
cortam-se, afastam-se,
sobrepõem-se.
Todo o lago é um prado de murmúrios.
Gostas de mim?
Gooosto. Não gosto. Assim assim.
A água contra a água -
a que está e a que chega.
Donde vens?
Do alto, onde fui algodão.
E tu o que tens feito?
Remoinhos, acalmias.
Lutam.
Não me faças transbordar.
Não tenhas medo. Sei da tua medida.
Depois confundem-se, possuem-se.
Lago ou leito?
Água dentro de água.

Lucinda Quitério

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